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Mari - Ballet OnLine

Mercado de Trabalho na Dança - Parte 2 Remuneração Financeira


No artigo anterior falamos sobre as possibilidades de carreira no mundo da Dança, caso não tenha visto este artigo aconselho fortemente que inicie por ele para ter mais proveito deste conteúdo, segue o link:

Hoje vou dar uma perspectiva superficial da Remuneração dos Profissionais da Dança. O grande objetivo é dar uma noção básica sobre este mercado principalmente aos pais que costumam entrar em "pânico" quando os filhos sugerem esta área como carreira.

Não é novidade para ninguém que a Dança é uma profissão de baixo valor no Brasil e em muitos outros países. Em 2007 eu participei de uma Turnê como Bailarina Profissional em um Companhia Brasileira, nesta turnê dancei em diversas regiões do Brasil e em Cuba, foi então que pude ter a percepção real do que é um país que valoriza a Dança Clássica.

Em Cuba os bailarinos e bailarinas são muito respeitados, recebem ajuda do governo para seus estudos (não pagam para fazer Dança) e andar de "coque" nas ruas era realmente espantoso, as pessoas perguntavam se eramos bailarinas e ao afirmar que sim recebíamos um caloroso sorriso. Completamente inverso do que acontece no Brasil. Digo isto baseada no que vi e vivi em 2007, na época Fidel Castro ainda era vivo e governava o país, depois disto não voltei a Cuba mas sei que muita coisa mudou. Contudo, tive o privilégio de passar alguns dias em um país que culturalmente valorizava a Dança.

Se nossa cultura não valoriza a dança, imagine a nossa economia. A verdade é que no Brasil a dança é vista como Hobby ou pior, artigo de luxo para os mais privilegiados financeiramente. Os incentivos culturais são mínimos e se pensarmos em Ballet Clássico então, praticamente zero, salvo alguns projetos sociais. Uma realidade desgostosa para quem pretende iniciar carreira nesta área e muito desesperadora para os pais que desejam o melhor para seus filhos.

Mas tenho um ponto de vista um pouco diferente sobre o Mindset desta situação.

Por um lado entendo completamente a situação dos pais, e imagino que também iria ficar desesperada se minha filha escolhesse seguir carreira em Dança. Por outro lado me pergunto: O que pode fazer ela feliz?

Muitas vezes os pais vislumbram uma carreira para os filhos baseado no retorno financeiro, ou ainda pior, no status social que a profissão poderá gerar a eles. Não... não tenho filhos. Não vou falar como mãe, vou falar minha visão de filha aos 37 anos neste momento.

Dediquei uma vida a dança - dos 11 aos 24 anos - e ao terminar a faculdade de Fisioterapia que fiz por influencia dos meus pais (eles queria uma filha com diploma - nada errado com isto), fui fazer pós-graduação, mestrado, trabalhar em UTI, dar aulas em faculdade. Aos 31 anos, financeiramente estava muito bem colocada no Mercado e com um bom Status Profissional, notei que não estava feliz. Chegava em casa com vontade de chorar, acordava para trabalhar sem a menor vontade de levantar, lembrava do tempo em que dançava e sentia que minha vida não fazia sentido. Foi então que tomei uma das decisões mais difíceis da minha vida, guardar o diploma na gaveta.

Acredito que fui corajosa em retomar um sonho antigo e incerto, abandonando empregos estáveis e indo contra aos desejos dos meus pais. Mas fiz.

Aos 31 anos de idade fundei a minha escola de Dança, a D'leite. Com o objetivo de ensinar o que eu amava de uma maneira diferente, com um método próprio. Atualmente estamos no sétimo ano de escola, me tornei uma empreendedora no mercado da Dança e dos sonhos.

Hoje lido com bailarinas e bailarinos sonhadores como eu, e pais muitas vezes em pânico como os meus. Hoje sou feliz, uso o conhecimento em fisioterapia para melhorar minha técnica em ensinar. Acordo e durmo feliz. Sim, meu rendimento financeiro é bem menor, mas a leveza de viver é muito maior.

Mas e se eu não tivesse tido esta coragem? Como adultos, que somos, pais, quantas vezes na vida vocês tiveram coragem em negar os desejos dos outros para fazer algo que os fazem feliz e completos? Depois que ficamos adultos as responsabilidades pesam cada vez mais, imagino que quando olham para os seus filhos, a possibilidade de vocês simplesmente abandonar uma carreira profissional para iniciar, ou reiniciar outra seja mínima.

O que irá acontecer com seus filhos se seguirem algo que não gostam apenas para não desapontá-los? Será que em algum momento da vida eles terão coragem de corrigir o curso da vida? Ou será que se contentarão com um boa conta bancária e um coração vazio?

Perdoem-me esta analogia pesada, mas é a realidade.

Não sou defensora da carreira Dança, pelo contrário. Quando uma bailarina vem me dizer que deseja fazer faculdade de dança eu logo tento mostrar outras opções. Sim, na minha opinião, a não ser que ela deseje seguir a carreira acadêmica tem outras formas de formação que possibilitarão a ela trabalhar com dança e/ou em outras áreas. Por exemplo o meu caso, fiz Fisioterapia e uso o meu conhecimento para dar aulas, mas se um dia alguma "desgraça financeira" acontecer, não sou apenas formada em Dança, tenho uma segunda profissão "reserva".

O que defendo é que mostrem estas possibilidades aos seus filhos. Eles vão desejar seguir apenas Dança, sim, é mais fácil. Mas tendo a clareza da situação real deste mercado, e como podemos nos preparar para viver os nossos sonhos sem arriscar nosso futuro, fica mais fácil tomar decisões. Contudo, se couber um pedido, não os proíba de fazer o que amam. Eles são capazes de se desenvolverem em duas ou mais profissões.

E não pensem que eles não se preocupam com a Remuneração Financeira, é cada vez mais comum meus alunos perguntarem qual o salário no Mercado da Dança. É claro que esta não é uma resposta simples e certeira, afinal varia de acordo com o país e ainda de acordo com cada região do país, mas vamos levar em consideração a região do interior de São Paulo, onde atuo atualmente. Segundo o Sindicato da Dança do Estado de São Paulo:

Contrato Mensal ou Nota Contratual

Carga horária mínima: 180 horas mensais

Coreógrafo de Dança e Maitre de Ballet: R$ 8.500,00

Assistente de Coreógrafo e Ensaiador de Dança: R$ 8.000,00

Bailarino: R$ 7.000,00

Dançarino: R$ 2.200,00

Olhando em primeira mão pode parecer bom, mas vamos analisar com um pouco mais de atenção, 180 horas mensais equivale a aproximadamente 40 horas semanais, que equivale a 8 horas por dia (durante 5 dias na semana).

Vou usar como exemplo professor/coreógrafo, ok...Seria fantástico se cada professor e coreógrafo tivesse a oportunidade de dedicar 8hrs do seu dia a uma escola. Mas a realidade hoje, é que um professor/coreógrafo para preencher 8 hrs do seu dia com aula, ele precisaria dar aula em aproximadamente 03 escolas ou mais, o que também gera um bom tempo de deslocamento entre cada escola, muitas vezes até cidades diferentes.

Sendo assim dar 8 hrs de aula por dia, e assim preencher sua carga horária total, se torna um pouco mais complexo do que parece.

Além de professores e coreógrafos, existem outras possibilidades neste mercado, conforme descrevi no artigo anterior, que podem ter valores bem variados.

Quanto aos pré-requisitos de cada área, a relação oferta x procura, vou desenvolver nos próximos textos, afinal este também ficou longo.

Espero ter dado uma visão geral para os pais, e até mesmos para os bailarinos e bailarinas que tem pensado no Mercado de Trabalho da Dança para fazer carreira. Definitivamente não é o mercado mais rentável financeiramente, mas para os apaixonados por dança é o mercado que trará muita realização pessoal.

Um grande abraço

de quem ama o que faz

Mari

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